Transformamo-nos numa nação que é referência mundial na produção de grãos e proteína hoje, vencendo vários desafios ao longo dos últimos vinte anos. O que possibilitou que elevássemos o Valor Bruto da Produção (VBP) de cerca de R$ 185 bilhões, em 1999, para os quase R$ 600 bilhões atuais foram as vantagens naturais – como clima e área disponível –, tecnologia, pesquisas desenvolvidas pelos produtores com a inestimável colaboração de vários institutos de pesquisa, uma moderna gestão empresarial e crédito subsidiado.

Mas, ao mesmo tempo, estamos cientes de que não devemos parar de avançar, até pelo fato de já ter sido detectada uma preocupante estagnação nos ganhos de produtividade em segmentos vitais do agronegócio. Além disso, transformações importantes na geopolítica mundial e no comportamento do consumidor forçam-nos a manter o foco na inovação, para continuarmos competitivos e avançarmos na profissionalização dos produtores, na consolidação agroindustrial, na expansão da infraestrutura do País e na sustentabilidade, que elevariam o valor agregado das nossas exportações. Outro ponto fundamental para o nosso avanço é contarmos com a habilidade governamental em negociações comerciais que mantenham e ampliem mercados no exterior.

Nesse aspecto, torna-se especialmente importante mostrarmos que somos criteriosos na questão da sustentabilidade ambiental, social e trabalhista no que tange à produção de alimentos. Não podemos correr o risco de jogarmos fora a reputação conquistada e perdermos espaços nas gôndolas e nos pratos de populações exigentes como a europeia, a asiática e a norte-americana. Acreditamos que o sucesso do agronegócio brasileiro obtido até agora não será suficiente para garanti-lo no futuro. Os consumidores serão diferentes, a rastreabilidade da produção torna-se indispensável, tecnologias disruptivas como a da carne de laboratório vão se acelerar, e ‘fundos verdes’ ganharão espaço no financiamento.

Ou nos conscientizamos disso, ou não atenderemos a maior parte do crescimento da demanda mundial por alimentos previsto para as próximas décadas. Nesse contexto, a ABAG, assim como outras importantes entidades das diversas cadeias produtivas do agronegócio, manifesta preocupação com recentes movimentos em curso no governo federal no sentido de promover alterações no Código Florestal e em diretrizes ambientais relacionadas, principalmente, à Amazônia que poderão gerar uma permissividade maior em relação ao conceito de Reserva Legal ou, até mesmo, não ser bem entendidas no exterior.

Por Marcello Brito, presidente da ABAG, para Agroanalysis/FGV (2019)