A ausência de ações de curto e médio prazos que reduzam os efeitos danosos da ferrugem asiática sobre a cultura da soja pode resultar em perdas de faturamento da ordem de R$ 39 bilhões para o produtor rural, além de um impacto negativo de R$ 19,5 bilhões nas exportações da cadeia e outros R$ 10,6 bilhões seriam perdidos pela menor arrecadação de tributos. Os dados são de um estudo elaborado pela Sparks Consutoria e Inteligência Competitiva, que foram analisados no Debate: O Futuro da Soja no Brasil, promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio e o Instituto de Estudos do Agronegócio (ABAG), em 27 de julho de 2020, em Brasília.
Ao final do encontro, que contou com a participação de representantes dos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Meio Ambiente, além da Embrapa e do parlamento, o presidente da Abag, Luiz Carlos Corrêa Carvalho destacou a importância desse primeiro encontro para debater os impactos socioeconômico da ferrugem asiática na cadeira produtiva da soja. “Diante da gravidade do problema e, para darmos sequência às discussões do tema, faremos um resumo executivo com as conclusões do debate para entregarmos aos ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente e também aos órgãos de regulamentação para que ações sejam tomadas no sentido de equacionar a questão”, afirmou.
Um dos pontos fundamentais para encaminhar uma solução para o problema da ferrugem, que pode, segundo o estudo, num caso extremo, diminuir em até 3 milhões o número de empregos gerados na cadeia da soja, é reduzir a burocracia dos órgãos de fiscalização sanitária, que impede a aprovação de novos produtos para combater a doença. “Um levantamento do Ipea mostrou que a Anvisa tem capacidade de analisar apenas 150 processos de produtos inovadores por ano, enquanto existem hoje nada menos que 1.300 processos em análise. Isso cria um gap tecnológico que só seria normalizado em 2022”, afirmou Carvalho.
No caso de uma situação de risco sanitário como o da ferrugem da soja o caso fica ainda mais sério. Na opinião do secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Gaetani, que participou da abertura do evento, o caminho do diálogo e do acerto de pontos divergentes é o mais indicado. “Exemplo disso foi um encontro, a meu ver inédito, realizado na semana passada, que reuniu as ministras Katia Abreu, da Agricultura, e Isabela Teixeira, do Meio Ambiente, com representantes de 27 secretarias de agricultura e do meio ambiente de vários estados. Penso que a melhor forma de resolver os problemas é organizar os contraditórios”, disse Gaetani.
Na mesma linha otimista, opinou o deputado federal Marcos Montes, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, que também esteve presente na abertura dos debates. A seu ver, apesar do país viver uma situação de crise econômica e política, as várias esferas de poder tem se conversado. “Agora mesmo, o Ministério da Agricultura formou um grupo de trabalho e tivemos uma reunião muito produtiva com dirigentes da Anvisa para reduzir os gargalos”, comenta o parlamentar.
Entre as soluções propostas no encontro destacam-se: criação de uma janela para a semeadura, manejo da cultura na entressafra, semeadura de cultivares precoces no início da época recomendada, monitoramento da doença na lavoura e na região suspeita e aplicação de fungicidas nos primeiros sintomas ou de forma preventiva. “No caso da janela para semeadura, sabemos que nem todos ficam felizes com essa medida, mas o produtor tem de entender que estamos diante de um fungo muito agressivo e que, se nada for feito, o cenário crítico de perdas desenhado para 2025 pode até ser antecipado”, diz Cláudia Godoy, pesquisadora da Embrapa, que fez uma apresentação no encontro.
Para Eduardo Daher, diretor-executivo da Andef – Associação Nacional e Defesa Vegetal, convencer o produtor de soja a obedecer a janela de semeadura é difícil, principalmente quando os preços da soja estão em patamares elevados. “Se a soja sinalizar que pode voltar ao patamar de US$ 15 o bushel, ficará mais difícil acreditar que o produtor vai respeitar janela de plantio, refúgio e que não plantará soja sobre área onde estava plantada soja”, comenta.
Com tal análise concorda também outro participante das discussões, o presidente do Instituto Pensar Agropecuária (IPA) e vice-presidente da Aprosoja Brasil, Ricardo Tomczyk. “A possibilidade de se ter uma safrinha de soja é um prato feito para o produtor. Nesse sentido, falar em vazio sanitário é realmente complicado”. No caso do Mato Grosso, segundo Tomczyk o que houve foi uma abordagem equivocada para a comunicação sobre a necessidade do vazio. Segundo Cláudia, já se conseguiu acordos em relação a esse ponto em Estados como Goiás e em outros, como no caso do Paraná, o assunto está bem avançado.
Todos os participantes do encontro promovido pela Abag concordaram que a questão burocrática é o grande empecilho para que o assunto seja melhor discutido e solucionado. “Não resta dúvida que a burocracia se torna ainda pior quando ela se soma à ideologia. Fica complicado conciliar e harmonizar três visões distintas do Ibama, Ministério da Agricultura e Anvisa”, afirmou Girabis Evangelista Ramos, diretor do Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas e Afins do Mapa.
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