2019 foi um ano conturbado, principalmente no campo da política, mas que nos ensinou várias lições. Para o nosso setor, uma lição importante foi que o protagonismo do agro brasileiro possui reconhecimento em escala global. Só que, cada vez mais, a competição se tornará mais acirrada no mercado internacional.
O agronegócio brasileiro conseguirá sustentar os índices de crescimento registrados nos últimos 30 anos com aumento de produtividade e muito investimento em inovação e tecnologia. Mas, precisa ir além! Esses requisitos devem vir acompanhados de uma postura diferente dos agentes envolvidos em relação aos mercados compradores: temos de ir ao encontro do que o consumidor mundial quer comprar e não simplesmente o que podemos ou queremos vender. É uma mudança de posição, que exige comunicação entre os elos dessas cadeias.
Nesse contexto de concorrência, o ano de 2019 também nos ensinou sobre a relevância do rol de preocupações do agro com a inserção de conteúdos ambientais nas negociações do comércio internacional. Dessa forma, acreditamos nas parcerias que deverão ser firmadas agora, sobretudo a partir do fechamento do grande acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
Para tanto, devemos intensificar nossas ações de divulgação de todas as atividades sustentáveis já realizadas pelo setor. Lembrar que cumprimos uma das mais restritivas legislações sobre preservação ambiental do mundo. Em nenhum outro país, sobretudo entre os nossos mais diretos competidores, o produtor tem de preservar parte de sua propriedade. E isso sem nenhum benefício ou incentivo.
Em paralelo a esse trabalho de explicar melhor nossas ações, devemos ainda concentrar esforços para cuidar da completa implementação do Código Florestal, além de validar rapidamente o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e avançar nos Programas de Regulamentação Ambiental (PRAs). Da mesma forma, cabe regulamentar a legislação sobre os incentivos econômicos para a proteção da vegetação nativa, com pagamentos por serviços ambientais (PSA´s) e a criação do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões.
Com relação a polêmica da Amazônia, a busca por soluções esbarra num problema que reputamos o mais grave, que é a questão fundiária. A estrutura fundiária é a mãe de todas as mazelas da Amazônia. Nesse sentido, aqui vivemos um problema único, pois na Europa isso é uma coisa inacreditável, uma vez que toda a questão fundiária está pacificada há séculos. Lá existem áreas com titularidade de 500 anos, que passou por várias gerações. Aqui são áreas novas, o que gera uma enorme insegurança jurídica, que é péssimo para o ambiente de negócios, pois desestimula investimentos que poderiam gerar renda e desenvolvimento.
Novamente, do ponto de vista do agro, temos plena certeza que, com o atual estágio de elevado desenvolvimento tecnológico do segmento no Brasil, temos condições plenas de contribuir com a bioeconomia ou com a economia circular, conceitos plenamente amigáveis com a região amazônica. Em paralelo, temos de intensificar nossas ações e iniciativas para coibir desmatamento ilegal e desenvolver instrumentos e mecanismos para atenuar os efeitos perversos ligados à insegurança jurídica decorrente da confusa estrutura fundiária.
A falta de uma comunicação eficiente sobre o que o agro tem feito, tanto na questão ambiental como no aspecto da segurança alimentar passa hoje por um processo onde a percepção se sobrepõe à realidade. O primeiro passo para revertermos esse processo deve ser o alinhamento dos discursos, que precisam ser pautados em ciência e em dados e menos em engajamento ideológico. Por exemplo, devemos ser os primeiros a denunciar o desmatamento ilegal, temos de combater a criminalidade e desmatamento ilegal é crime. Não podemos ser coniventes com esse tipo de ação delituosa.
É preciso cuidar da percepção dos ótimos feitos do Brasil, dentro da lei, da ordem e dos princípios da sustentabilidade e da bioeconomia. Da mesma forma, precisamos de lei e ordem para punir os criminosos, os ladrões de floresta, os ilegais que destroem nosso patrimônio e junto com ele a imagem do Brasil. Acreditamos que a sustentabilidade é totalmente favorável ao País a à sua agricultura. Ela insere um novo padrão mundial e dissolve a dicotomia de que ou há conservação ou há produção. Hoje o Brasil prova ao mundo que é possível ter produção e conservação, com rentabilidade para os negócios.
Esperamos que em 2020 tenhamos avanços significativos nesses temas e que a ABAG possa continuar contribuindo para uma comunicação clara e transparente do agro moderno e sustentável.
Marcello Brito, presidente do Conselho Diretor (gestão 2019/2021)
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