O Brasil pode contribuir para a diminuição da insegurança alimentar do Planeta, a erradicação da fome, bem como para a promoção do crescimento social e econômico nacional e a preservação dos nossos biomas. – Marcello Brito, presidente do Conselho Diretor da ABAG (gestão 2019/2021)
A PANDEMIA de COVID-19 elevou a insegurança alimentar no mundo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), após cinco anos de relativa estabilidade, cerca de 811 milhões de pessoas no mundo passaram fome em 2020. E, se nada for feito atualmente, a estimativa é que ainda haja 660 milhões de indivíduos nessas condições em 2030.
Diante desse cenário, o Brasil pode fazer a sua parte e contribuir com o que tem de melhor – biodiversidade, ciência, clima, experiência, pessoas, solo e tecnologia –, na tentativa de diminuir consideravelmente a insegurança alimentar do Planeta, erradicar a fome e, ao mesmo tempo, promover o crescimento social e econômico nacional e preservar os nossos biomas.
Essa responsabilidade atribuída ao agronegócio brasileiro mostra a sua grandeza e o seu potencial, mas também coloca o compromisso de buscar a melhoria da produtividade, da sanidade e da qualidade dos seus produtos. E o nosso setor conta com diversas tecnologias que podem ser implantadas para atingir esse objetivo, especialmente dentro da porteira, beneficiando os produtores rurais em diferentes aspectos, incluindo mais rentabilidade, menos desperdício e mais capital de giro para reinvestir em sua produção.
Contudo, existem dois pontos nevrálgicos nesse cenário que requerem atenção. O primeiro é a composição da carteira de clientes dos produtos agropecuários brasileiros. Atualmente, temos uma forte relação de interdependência com a China, que é o nosso maior cliente global. Por isso, as tratativas com essa nação precisam estar pautadas na transparência, reforçando esse relacionamento bilateral. Por outro lado, o comércio global com um número maior de países necessita ser trabalhado cada vez mais, para garantir que as cadeias produtivas ligadas às diversas commodities não sofram reveses inesperados diante de um problema específico com algum comprador.
Sabemos como o agro brasileiro é competitivo. Por isso, ter uma política de comércio exterior estruturada, que sustente o trabalho feito pelo MAPA, pode resultar em arranjos comerciais que contribuam para o equilíbrio da atual situação socioeconômica, com geração de emprego e renda.
O segundo ponto refere-se à nova postura de investidores, consumidores e países que colocaram como pauta prioritária a preservação ambiental e, consequentemente, produtos agrícolas advindos de países e regiões que utilizem práticas sustentáveis em sua produção, com informações rastreáveis. Essa exigência visa reduzir os impactos das mudanças climáticas.
Nesse sentido, o potencial agroambiental brasileiro é enorme. As propriedades rurais são as que mais preservam a vegetação nativa, além de haver biomas únicos, que poderiam transformar o nosso País na maior economia verde do Planeta. No entanto, infelizmente, a realidade é outra: hoje, somos vistos como um inimigo do meio ambiente, pelas constantes ilegalidades ocorridas na Amazônia sem punição aos infratores. Os discursos sem embasamento científico e a falta de uma política ambiental consistente também corroboram para essa imagem.
Com isso, o comércio global dos produtos agropecuários brasileiros se enfraquece, diminuindo as chances de ampliação de novos mercados. Por isso, o agro brasileiro precisa estar unido, trabalhando em prol do fortalecimento do Estado democrático de direito e da implementação de políticas públicas consistentes e responsáveis para o crescimento sustentável do País.
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