Com investidores de todo o mundo preocupados com o avanço do desmatamento na Amazônia, o Banco Central (BC) decidiu mostrar o seu compromisso com a preservação do meio ambiente e lançou em setembro uma agenda de ações de responsabilidade ambiental. As medidas valem para o BC, mas também para todo o Sistema Financeiro Nacional.
Esse passo fundamental pavimenta as duas vias de atuação do sistema financeiro no tema socioambiental: ao mesmo tempo que fomenta as ações de responsabilidade social e destaca a relevância do engajamento dos bancos na agenda de sustentabilidade, atualizando a regulação em vigor desde 2014, incorpora a visão de mensuração dos riscos socioambientais – a começar pelos riscos climáticos – nas carteiras de crédito das instituições financeiras.
Desde 2009, o BC integra o Comitê para Estabilidade Financeira (Financial Stability Board – FSB, em inglês). Em 2014, o BC lançou as diretrizes da Política de Responsabilidade Ambiental, tido como um marco regulatório de referência das suas iniciativas. Na verdade, cada vez mais, as melhores práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) estão associadas a atividades empresariais sólidas, baixo custo de capital e melhor resiliência contra riscos a clima e sustentabilidade. Certamente, o agronegócio será beneficiado com esse enfoque.
De uma maneira geral, as estratégias envolvem uma série de temas associados a fatores de risco climático, crescimento sustentável, crédito para o setor agropecuário, variáveis socioambientais e estabilidade financeira. Todos eles estão da pauta das empresas e nas principais discussões das organizações civis. O impacto da severa estiagem de 2015 na região sudeste do país, com a escassez de água, foi um exemplo de como essas variáveis são analisadas de forma integrada.
Para o Brasil, a inclusão do tema sustentabilidade nas decisões de crédito representa um grande avanço. Três riscos principais são identificados: Primeiro – de crédito, oriundo de fatores climáticos, pois poderá afetar a capacidade de crédito da instituição financeira. Segundo – o legal, devido ao descumprimento da legislação ambiental ou mesmo social, como o trabalho similar ao escravo. Terceiro – reputacional, advindo de uma ação malfeita por parte de uma instituição financeira, sujeita a facilidade de comunicação das redes sociais e fragilidade existente perante a opinião pública.
Antes do lançamento dessa agenda, no final de julho, os presidentes dos três maiores bancos do país – Bradesco, Itaú Unibanco e Santander -, apresentaram ao governo um plano com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, firmando compromisso com a preservação do Bioma e defendendo o desenvolvimento
correto do agronegócio no país.
Embora, nesse momento, tenhamos muito a lamentar numa agenda que parece perdida para o país, há que se reconhecer a importância da entrada do BC no tema. De forma transversal as questões socioambientais e de sustentabilidade serão peça chave do processo decisório das iniciativas do BC e do sistema financeiro do país. Bem-vindos ao Século XXI e suas novas utopias de desenvolvimento.
Marcello Brito
Presidente do Conselho Diretor da ABAG (2021)
Fonte: Artigo publicado na Revista Agroanalysis
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