O Brasil, com sua matriz energética limpa e práticas agrícolas sustentáveis, se destaca na produção de alimentos, bioenergia e fibras, alinhando o agronegócio com a preservação ambiental. Este papel de liderança se intensifica com a iminente realização da COP 30 em Belém, evento crucial para discutir a mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a contribuição do setor brasileiro para o mundo.
As emissões crescentes estão elevando as temperaturas globais e acentuando eventos climáticos extremos. Presenciamos mudanças nos padrões de chuva, intervalos mais curtos de plantio e colheita, proliferação de pragas e doenças, entre outros fatores negativos que afetam globalmente a segurança alimentar e energética, bem como o sustento dos mais vulneráveis.
O Acordo de Paris, assinado por 195 nações na COP21, visa limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, com a redução das emissões e o desenvolvimento sustentável. Porém, o grande desafio humano de manter as temperaturas em níveis aceitáveis depende do êxito em cinco grandes frentes:
1. Redução das emissões de GEE
2. Aumento da biomassa global e seu poder de fotossíntese
3. Substituição de produtos de origem fóssil por naturais
4. Combate à desertificação
5. Assegurar a circularidade
Essas ações exigem abordagens específicas para cada região, levando em conta a realidade geográfica, econômica e social de cada território. A agricultura, muitas vezes negligenciada nas discussões sobre mudanças climáticas, desempenha um papel central em alcançar esses objetivos.
A agricultura é essencial para reduzir as emissões de GEEs. Embora o setor de energia seja o maior responsável pelas emissões, práticas agrícolas inadequadas também contribuem significativamente, por meio do desmatamento, uso de insumos e materiais sintéticos, e queima de resíduos. No entanto, a adoção de métodos sustentáveis, como agrossilvicultura (cultivar árvores em conjunto com culturas agrícolas), agricultura regenerativa e agricultura de precisão, pode reduzir as emissões, sequestrar carbono no solo e aumentar a biodiversidade. A meta deve ser um setor agrícola de zero carbono ou até carbono negativo, ou seja, remover da atmosfera mais do que se emite, eliminando emissões adicionais.
Expandir o poder de sequestrar carbono, por meio da biomassa, é outro desafio importante. As áreas tropicais têm grande potencial para essa produção. A cobertura verde proporcionada pela agricultura tropical é crucial no combate às mudanças climáticas, pois as plantas não apenas armazenam carbono, da mesma forma, reduzem as temperaturas por meio da fotossíntese.
A substituição de produtos de origem fóssil por naturais é uma prioridade. Bens de consumo humano, como plásticos e fertilizantes sintéticos, podem ser substituídos por materiais de origem vegetal ou animal. Essa transição precisa ser escalada, com custos competitivos e desempenho adequado.
O combate à desertificação refere-se a uma megatendência pouco óbvia: a desertificação do nosso planeta. De acordo com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, o mundo perde pelo menos 100 milhões de hectares/ano de terras saudáveis e produtivas devido à desertificação. Isso afetará mais de 3,2 bilhões de pessoas até 2050. Reflorestamento, florestamento, conservação do solo, agricultura sustentável, conservação da água, entre outras práticas, garantiriam grandes avanços. A recuperação de pastagens degradadas é um exemplo de como podemos combater as mudanças climáticas, promovendo também o desenvolvimento econômico e social de forma direta e imediata.
A promoção de uma economia circular no setor agrícola pode ser decisiva para a mitigação das mudanças climáticas. A produção de biocombustíveis a partir de resíduos agrícolas, compostagem, uso de fertilizantes orgânicos, insumos verdes e reciclagem de embalagens são exemplos de práticas circulares que reduzem desperdícios, geram energia renovável e melhoram a qualidade do solo.
Para que essas transformações ocorram, são necessários incentivos e estrutura de financiamento adequados. A COP29 em Baku destacou os mercados de crédito de carbono como uma nova unidade monetária climática. Porém, para garantir o sucesso dessa estratégia, é necessário um debate mais amplo sobre sua rastreabilidade, transparência, auditabilidade e equidade. Também são necessários aportes financeiros significativos, especialmente para economias emergentes a fim de viabilizar a transição para um setor agrícola negativo em carbono.
O papel da Agricultura na COP30
A COP30, que ocorrerá no Brasil, na cidade de Belém (PA), é uma oportunidade excepcional para esclarecer o papel fundamental do setor agrícola no combate às mudanças climáticas. As abordagens simplistas e ultrapassadas, que desconsideram as especificidades de cada região, não são suficientes. Precisamos de um conjunto de princípios que guiem as políticas climáticas no setor, promovendo a cooperação internacional e a eficácia das ações globais. Esses preceitos devem considerar as diferentes realidades e desafios de cada país, facilitando a colaboração entre governos, negociadores e demais partes interessadas.
A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB) promovem junto a outras associações representativas do setor uma verdadeira aliança do agronegócio sustentável e estão prontas para liderar essa discussão em conjunto com o governo e demais stakeholders. O objetivo é sair da COP30 com um plano claro para acelerar a transição do setor agrícola, consequentemente contribuindo ainda mais para a mitigação das mudanças climáticas e a garantia de uma transição justa para um futuro de baixo carbono. O agronegócio deve ser reconhecido como parte da solução para a questão climática, e não como problema.
Roberto Azevêdo é presidente da Iniciativa Internacional para o Agronegócio Brasileiro.
Diplomata, foi diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC)
– Artigo publicado originalmente na Agência Estado em 06/02/2025 (robertoazevêdo_artigoAE)
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