Artigo escrito por Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG),
para a Revista Agroanalysis (VOL. 42 | Nº 10 | OUTUBRO 2022)

“Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais
belos foram aqueles em que lutaste.”

Sigmund Freud

Em processo de profundas mudanças, mesmo antes da pandemia de COVID-19, com a guerra fria entre os EUA e a China e, há mais de seis meses, com a guerra “quente” entre a Rússia e a Ucrânia, tem-se uma inflação globalmente elevada, com o remédio amargo dos juros altos, déficit fiscal em geral, recessão já em 2022 na Europa, um menor crescimento da China e, é claro, um pífio crescimento global. Trata-se de um diagnóstico duríssimo, do tipo tempestade perfeita!

Nesse estado de sofrimento e incertezas, o Brasil tem a sua parte, mas vem acentuando o seu papel global de agente de redução das inseguranças alimentar e energética. Esses dois temas são a prioridade do mundo, e o País é protagonista em ambos, sendo esperança ao Planeta pressionado.

Apesar de difícil, perde-se, no Brasil, menos do que na imensa maioria dos países ricos e emergentes, graças ao efeito formidável do seu agronegócio. Sendo responsável por quase 30% do Produto Interno Bruto (PIB) e por empregos, inclusive durante o auge da pandemia. O agro seguirá sendo a força do Brasil, mesmo exposto às narrativas distorcidas dos seus competidores. É claro que será preciso dar sequência à redução no desmatamento ilegal, assim como implantar o Código Florestal nos estados. Também é importante que as empresas introjetem os conceitos do ESG – sigla em inglês para normas ambientais, ações sociais e de governança –, pois, à medida que a presença brasileira no mercado internacional crescer, será fundamental continuar com os ganhos de produtividade agroindustrial que geram o efeito poupa-terra, assim como aperfeiçoamento profissional dos seus recursos humanos.

A fase global de desequilíbrio macroeconômico será mais longa do que se gostaria. Com campanhas eleitorais em lados radicalmente opostos no Brasil. Enquanto a esquerda tenta rotular o agro como fascista, a direita flerta com políticas para combustíveis que estão gerando elevadas perdas ao produtor de cana e de etanol.

A visão de um Brasil verde, com substituição de carbono fóssil pelo renovável, que encantou o mundo e que atrai interessados externos, não pode deixar desconfianças em ações conjunturais. O combustível verde é a esperança para que o Brasil seja o grande protagonista da descarbonização do Planeta. Novamente, são movimentos tecnocráticos de estreita visão, com foco financeiro de curto prazo e toques populistas que confundirão os investidores sobre uma menor intervenção do Estado na economia do País.

Pode-se até entender a recaída dos alemães ao voltarem às energias não limpas, pela dependência que os liga ao gás natural russo, em plena luta contra o aumento do uso de carbono fóssil e na boca do inverno europeu, mas não se pode aceitá-la! O que não dá para entender é uma política que estimule o uso de gasolina em detrimento do etanol no Brasil.

Às vésperas de uma eleição, é preciso lutar contra isso. Uma reversão desse caminho atrapalhado que a política energética nacional vem namorando é urgente, incluídos os riscos de uma desnecessária revisão do RenovaBio, e os candidatos devem refletir sobre os efeitos desse movimento negativo para o Brasil e suas sequelas.

OLHO: “A visão de um Brasil verde, com substituição de carbono fóssil pelo renovável, que encantou o mundo e que atrai interessados externos, não pode deixar desconfianças em ações conjunturais.”