Por Renato Buranello e Barbara Breda*
Os recordes consecutivos de produção das principais commodities, nos últimos anos, levaram os produtores a reforçar seus aportes em tecnologia e instrumentos de melhora produtiva.
Com isso, a produtividade dobrou nos últimos dez anos e provocou a necessidade de utilização de mecanismos para melhor gestão financeira, controle de riscos e aprimoramento da governança das fazendas.
Nos últimos dez anos, a produção de soja (principal produto de exportação do agro), passou de 81,5 milhões de toneladas na safra 2012/12, para 154,8 milhões de toneladas em 2022/23, conforme série histórica da Conab. A previsão para o ciclo 2023/24 é de novo recorde.
O setor é, hoje, propulsor da economia do país, como pudemos constatar com o resultado da agropecuária no PIB brasileiro. O desempenho surpreendeu o próprio setor, que vê com bons olhos o resultado esperado até o final do ano.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) subiu de 9% para 10,5% a expectativa de crescimento do agro em 2023.
O avanço, além de robusto em comparação ao último trimestre de 2022, é também significativo em relação ao primeiro trimestre de 2022.
De maneira igualmente positiva, a expansão apontada até o momento em muito se deve à produção, ao contrário do verificado nos últimos anos, em que preço e câmbio foram mote aos resultados positivos.
Estudo recente, porém, aponta a cenário de recorde produtivo, em paralelo a movimento de queda dos preços domésticos e internacionais.
Conforme levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), essa tendência é percebida nos principais produtos agrícolas como soja, milho e trigo no primeiro trimestre deste ano, sem expectativas de alta nos próximos meses.
Essa redução no preço dos grãos pode afetar a rentabilidade do produtor. Por esse motivo, é importante que o momento positivo da produção seja refletido em maior investimento dentro da fazenda e, ainda, em mecanismos de governança e gestão de risco.
O setor tem demandado cada vez mais recursos para manter a alta produtividade no campo. Por isso, é preciso renovar e ampliar as fontes de financiamento, oferecendo alternativas privadas e fora do modelo anterior já conhecido, que conta com instrumentos e recursos públicos e direcionamento por meio das instituições participantes do Sistema Nacional de Crédito Rural.
O Sistema, porém, originado na década de 1960, não está apto a responder aos paradigmas de novo modelo produtivo, que pressiona um orçamento tradicionalmente limitado, como verificado nos últimos Planos Safra.
Por esse motivo, foram desenvolvidas ao longo das últimas três décadas soluções de aporte privado de capital ao setor, como os títulos de crédito inaugurados com a Cédula de Produto Rural (CPR), em 1994.
Aumentos produtivos levam a novas fronteiras e complexas estruturações operacionais. A nova entrada ensaiada – e que começa a ser operacionalizada – é no mercado de capitais, em especial, por meio dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agro (FIAGRO).
Espera-se, com isso, facilitar o acesso do produtor ao capital, com consequente diluição de risco e garantia de recursos de médio e longo prazo.
*Renato Buranello é presidente do Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA); Barbara Breda é diretora-executiva do Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA). Publicado originalmente por GloboRural, em 21/06/2023.
Comentários