A bioeconomia é chave para diversos setores e atores, que precisam trabalhar juntos para chegar no denominador comum. Desse modo, precisa ser agregadora, desenvolvendo os diversos biomas com preservação ambiental, olhando também os lados econômico e social. “É um caminho a ser seguido de forma estruturada”, afirmou Talita Priscila Pinto, coordenadora do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), durante o Webinar ABAGTALKS Caminhos da bioeconomia para a COP30, promovido nesta segunda-feira, dia 17 de junho, pela ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio)
De acordo com Talita, o Brasil precisa enxergar as dores, lacunas e gargalos, a fim de superá-los. Por outro lado, é uma grande fábrica de desenvolvimento setorial sustentável, de recursos naturais, de prestação de serviços ambientais e de valoração ambiental, por isso conta com um universo de possibilidades, que já foram implementadas e que podem ganhar mais escala, levando ao desenvolvimento da bioeconomia e gerando externalidades positivas internas e para o resto do mundo. Para ela, há ainda que se pensar em biossegurança, pois quando bem estruturada possibilita o aumento de escala da produção e mostrar o quanto a bioeconomia é importante para mitigar as percepções negativas e ampliar a aceitação pública de todos os sistemas produtivos que já avançaram nessa área.
Contudo, a ausência de definição e padronização do que é bioeconomia, na visão de Talita, dificulta a uniformização e definição de estratégias comuns, trazendo impactos para a captação de recursos externos e de investimento, a fim de que as soluções tenham uma escala global, e para as questões relacionadas à avaliação de sustentabilidade de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) de vários produtos.
Mediado por Nina Ploger, cofundadora da empresa IPDES e membro do Comitê de Sustentabilidade da ABAG, o Webinar ABAGTALKS contou com a participação de Marcello Brito, secretário-executivo do Consórcio Amazônia Legal, que destacou que as transformações bioeconômicas são pautadas pela ciência e pela tecnologia, citando o exemplo da área de papel e celulose, que passou por mudanças importantes, saindo de um setor que estava caminhando para a extinção e que, atualmente, é visto como fundamental para a economia global, como provedor de substituto ao plástico e transformador de resíduos em ativos.
Ele também abordou a mudança de mentalidade quando se trata de bioeconomia. Nesse sentido, citou a importância do Código Florestal para o país e o conhecimento sobre o comportamento da nova geração de consumidores na Ásia-Pacífico, que detém o maior número de pessoas, maioria de jovens e deve ter a maior concentração da classe média em 2030. “Como colocar nosso país dentro desse mercado de forma mais assertiva? Ao ampliar a inserção do Brasil nos mercado internacionais, teremos mais recursos e mais desenvolvimento. Vamos conseguir utilizar os ativos ambientais para trabalhar a agenda da bioeconomia, que contempla mineração responsável, sistemas alimentares sustentáveis, energia renovável, novos processos industriais”, explicou Brito.
Outro ponto tratado por Brito foi importância do diálogo sobre a bioeconomia e o desenvolvimento sustentável da Amazônia. “Todos queremos que a Amazônia se desenvolva de maneira sustentável, pois hoje ela está entre os piores colocados nos índices de desenvolvimento humano no Brasil”, reiterou. Entretanto, para que haja esse tipo de aprimoramento socioeconômico, Brito comentou que é preciso ter logística, transporte, mão de obra, economia, segurança pública, condições federais, estaduais e municipais, ou seja, depende uma gama de fatores complexos que fazem parte da gestão pública e da iniciativa privada. “É preciso chegar em um consentimento”.
COP 30
Na avaliação de Brito, a COP 30 (30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), a ser realizada em Belém, no Pará, em novembro de 2025, mostrará qual será a plataforma econômica no mundo para a próxima década, além do que os países devem apresentar a segunda rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês) até o evento.
“Ainda não sabemos qual será a agenda brasileira, mas ela precisa ser construída com inteligência estratégica. Estamos há dezessete meses do evento, por isso a sociedade civil organizada deveria estar se reunindo para discutir as pautas prioritárias. Caso não conversemos sobre o assunto, poderemos ver outros países definindo a agenda brasileira”, ponderou Brito.
Nesse sentido, Talita acrescentou que é preciso reunir todas as vertentes relacionadas à bioeconomia em um planejamento estratégico, que contemple as diversas áreas, para a construção de uma agenda estruturada, com metas e indicadores que mostrem onde o Brasil está e onde pretende chegar, definindo como será mensurado o caminho que está sendo percorrido. “Ter essa organização interna contribui para que a agenda nacional seja apresentada e não definida, como é hoje”, pontuou.
Em relação aos sistemas alimentares, que foi um dos destaques da COP28, realizada no ano passado em Dubai (Emirados Árabes), Brito lembrou que na ocasião houve uma série de discussões a respeito de agricultura regenerativa, cujos conceitos básicos devem ser lançados na COP 30. Entretanto, ele comentou que o Brasil não está participando atualmente desses diálogos.
Futuro
No evento online da ABAG, Nina Ploger perguntou aos debatedores sobre perspectivas para os próximos 15 a 20 anos. Talita analisou que a transição para sistemas sustentáveis terá um peso ainda maior. “Se bem arquitetado e estruturada, com convergência entre setores e sistemas, o Brasil tem o potencial de ser o grande líder desta discussão”, acrescentou. Por fim, Brito disse que o futuro dependerá da forma como o Brasil se posicionar nos dias atuais para construção de um projeto de bioeconomia em que beneficie os setores, os atores e o país.
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