No agronegócio brasileiro, o governo e a cadeia produtiva estão cada vez mais sensíveis sobre o conceito da sustentabilidade, nas suas dimensões econômicas, sociais e ambientais. Isso fomenta uma mobilização extraordinária no País. Ele representa um quarto do PIB e o Brasil é terceiro no ranking mundial das exportações agropecuárias in natura e industrializadas, com perspectivas sólidas de crescimento nas próximas décadas. Essa tendência faz parte dos estudos de entidades internacionais de referência, como a Organização de Cooperação para o
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Órgão das Nações Unidas Para Alimentação e Agricultura (FAO).
Grandes e prioritários temas globais, as questões das seguranças alimentar e energética são um espaço aberto para a exposição privilegiada de marcas e produtos aqui no País e no exterior. Com a expressão global adquirida, o agronegócio brasileiro influencia as empresas a fazerem um alinhamento internacional a partir de soluções locais. Veja, por exemplo, o etanol brasileiro feito de cana-de-açúcar, reconhecido como combustível avançado pelos Estados Unidos, que faz parte da lei energética nacional do País. Praticamente, isso constitui uma exceção singular em relação aos outros tipos de negócios realizados pelo Brasil. Extremamente positivo para o plano reputacional do setor, esse atributo excêntrico rompe barreiras tecnológicas e, como consequência, comerciais.
No Brasil, a construção de um sistema tão complexo e amplo como o de alimentos, fibras e biomassa requer elaboração acurada. Como está associado ao crescimento e desenvolvimento nacional, cabe um trabalho frequente de revisitar a sua história. Temos realidades díspares em termos regionais de ocupação e uso do solo. Da segunda metade do século passado aos dias correntes, a expansão da fronteira agropecuária contribuiu sobremaneira para a integração do País, com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) elevado.
Ao longo do tempo, os pioneiros introduziram as primeiras práticas tropicais de produção. Das áreas tradicionais de canaviais, cafezais e milharais, foram inovadores na abertura das matas com a implantação das lavouras de arroz de toco e a dobradinha do boi zebu com a brachiaria. Nos anos setenta, aparece na sojicultura o sistema do plantio direto na palha, enquanto o Programa Nacional do Álcool trouxe
outro horizonte para a cana-de-açúcar. Mérito dos agricultores e da pesquisa (Embrapa, institutos federais, estaduais, faculdades, etc.), a tecnologia nativa domesticou os solos fracos e de acidez alta no cerrado do Brasil Central. Norman Borlaug, engenheiro agrônomo americano, Prêmio Nobel da Paz e pai da revolução verde, dizia: “enquanto o resto do mundo ocupou os solos de melhor qualidade, o Brasil recupera os piores. É uma mudança na história da agricultura mundial”.
Força da narrativa
Internacionalmente, diante de seu célere crescimento econômico neste século, é natural o agronegócio brasileiro despertar a atenção estrangeira. O setor demorou 500 anos para alcançar a exportação de US$ 20 bilhões em 2000, para galgar os US$ 97 bilhões em 2012. Esse caminho irreversível de protagonismo coloca o desafio de produzir inovações e informações com base na pesquisa e na ciência sobre a agropecuária brasileira. A moderna tecnologia agropecuária foi historicamente desenvolvida na zona temperada, enquanto a tropical brasileira ocorreu, praticamente, a partir da segunda metade do século passado. Somos o país de maior expressão no agronegócio tropical.
Constituem perda de tempo e energia os debates de falsas questões entre ruralista e ambientalista, produto de abastecimento interno e exportação, produção familiar e empresarial e tecnologia convencional, transgênica e orgânica. São todos fruto de um só agronegócio, em termos de concepção das políticas públicas e na tomada da decisão empresarial. Romper essa barreira é fundamental para se divulgar os produtos e marcas do nosso agronegócio aos consumidores além-fronteiras, com sua exuberância e qualidade.
Vivemos a realidade do programa da Agricultura de Baixo Carbono (ABC). É a recuperação de pastagens degradadas, a consolidação do sistema de plantio direto na palha em mais de 30 milhões de hectares, além da introdução da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Fazem parte, também, as florestas plantadas, a fixação biológica de nitrogênio no solo e o tratamento de dejetos de resíduos. Máquinas e implementos em constante inovação propiciam o avanço tecnológico. Estamos no princípio desse ciclo promissor, produzindo alimento, energia
renovável e melhorando os solos o tempo todo.
Com seus posicionamentos em congressos, fóruns e documentos, muitos dos quais, em parcerias com as coirmãs, a ABAG sempre esteve comprometida com a geração e propagação de conteúdos e narrativas para agregar valor ao agronegócio. Essa atribuição ficou agora mais
importante: investigar, antecipar e modelar estreitam o vínculo com os agentes ligados diretamente ou indiretamente ao setor.
A ABAG é uma importante ponte de conexão entre o governo, as empresas e a sociedade nas questões do agronegócio. As ações devem ser definidas para garantir a exibição conveniente, a defesa e o equilíbrio entre os elos das cadeias produtivas, cuidando dos temas ditos transversais, ou comuns às várias cadeias. O presente “caderno” celebra os 20 anos da ABAG, assim como foi realizado na comemoração dos seus 10 anos e 15 anos.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho (Caio), presidente (Gestão 2022-2023)
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