Revista do SuiSite: em prol da segurança alimentar mundial
Por Gislaine Balbinot, diretora executiva da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)
13 janeiro | Campinas/SP

O agronegócio brasileiro tem sido brilhante. Baseado em ciência, a cada ano, tem aplicado mais tecnologia para ampliar sua produtividade, a fim de oferecer ao mundo alimentos nutritivos e saudáveis, fibras e energia, atendendo as demandas de mais de 190 países. O setor tem se aperfeiçoado na conservação de biomas, ao imprimir um maior uso de técnicas sustentáveis, como o plantio direto, os processos de integração (iLP e iLPF), rotação de culturas, fixação biológica de nitrogênio, recuperação de pastagens degradadas, entre outros.

Todo esse esforço somado aos investimentos feitos antes, dentro e depois da porteira tem resultado em benefícios econômicos para o país e para a sociedade, bem como auxiliado na questão social, ao gerar empregos nos centros comerciais, mas, principalmente, em áreas rurais, propiciando às famílias melhores condições de vida.

Um estudo da LCA Consultores mostra que a renda real das áreas brasileiras dominadas pelo agro alcançaram um crescimento de 29,4% no último quadriênio (2019-2022) em relação ao quadriênio anterior, enquanto no restante do país a elevação foi próximo a 4%. Ademais, a atividade agropecuária emprega mais de 14 milhões de pessoas nas épocas de picos de plantio e colheita.

O agronegócio tem sido fundamental para a economia nacional. Em 2021, o setor representou 29% do PIB nacional, com uma receita da ordem de R$ 2,5 trilhões. Para este ano, o agro mantém boas perspectivas, apesar de o PIB do setor ter registrado queda no primeiro semestre, devido à alta dos custos de produção na agropecuária e de insumos na agroindústria e ao atraso da colheita em 2021.

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) estima que pode haver um crescimento de 2,8% no PIB neste ano. Outro dado importante é a previsão da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) de um novo recorde na safra de grão: 312,4 milhões de toneladas (2022/2023), o que representa um aumento de 15,32% diante das 271 milhões de toneladas da safra 2021/2022.

Cabe destacar ainda que projeções da consultoria MB Associados mostram que o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estados fortemente ligados à atividade agropecuária, devem crescer acima de 5% neste ano.

Nas exportações, o agronegócio segue contribuindo para o superávit da balança comercial brasileira. É importante ressaltar que o alto patamar de preços mundiais tem ajudado o setor a estabelecer valores recordes no ano. Em outubro, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), do Ministério da Economia, as exportações agropecuárias totalizaram US$ 6,23 bilhões, o que significa uma alta de 97% ante o mesmo mês de 2021. O resultado foi impulsionado pelas vendas de milho, que saltaram de US$ 380 milhões em outubro de 2021 para US$ 2,05 bilhões em outubro deste ano. Na soja, o aumento foi de 52,5% no valor exportado. No acumulado de janeiro a outubro, a expansão foi de 36% ante ao mesmo período de 2021, chegando a US$ 65,72 bilhões.

Contudo, a crise econômica, as mudanças climáticas, e principalmente, o retorno da insegurança alimentar e energética e a crise geopolítica são fatores que causam preocupação para o setor. A busca por soluções para o enfrentamento desses temas passa pela integração da esfera pública e da iniciativa privada, assim como pela integração de todas as cadeias agroalimentares. A união de todos os entes é fundamental para que o agro brasileiro continue em sua missão de suprir a demanda por alimentos em âmbito mundial.

Ao avaliar esses fatores, percebe-se que três deles: insegurança alimentar, mudanças climáticas e crise geopolítica estão interligados. Para garantir a segurança alimentar do mundo, por meio da erradicação da fome, a geopolítica é preponderante. Os acordos comerciais são o melhor caminho para uma distribuição mais igualitária dos alimentos. Atualmente, o problema da fome não está na produção de alimentos, mas sim, na distribuição deficitária e desigual.

Nesse sentido, é preocupante o retorno de ideias, conceitos e políticas precaucionistas e protecionistas, que têm sido cada vez mais disseminadas no mundo atual. Essas medidas levam o agravamento de novos acordos comerciais, assim como a imposição de regras unilaterais trazem prejuízos para o combate à insegurança alimentar. Portanto, a chave está no diálogo e o caminho é a integração.

O Brasil, dessa maneira, tem um papel importante no mundo, ao ser um dos maiores produtores e exportadores de alimentos, fibras e energia. Por isso, durante a XII Reunião Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), que ocorreu em junho, em Genebra (Suíça), o país se posicionou de forma estratégica, no sentido de buscar uma negociação para atender os países mais pobres no combate à fome, mas com a OMC liderando o sistema multilateral de comércio, baseado em regras claras e transparentes, que tornem esse sistema ainda mais justo, equitativo e orientado para o mercado.

As mudanças climáticas também interferem na geopolítica e, consequentemente, na insegurança alimentar. A imagem do agro no exterior está distorcida, gerando desafios no comércio internacional, que também pode dificultar o fechamento de acordos importantes para o fornecimento de alimentos. A realidade, que precisa ser mostrada e comunicada ao mundo, é que agronegócio brasileiro tem feito sua parte. O setor preserva áreas de vegetação nativa correspondentes a 33,2% do território brasileiro, o equivalente a 282,8 milhões de hectares conservados, segundo uma avaliação da Embrapa Territorial, a partir do geoprocessamento dos dados do Censo Agropecuário 2017 e do Sistema Nacional do Cadastro Ambiental Rural (SiCAR).

Há também políticas públicas que estimulam a produção sustentável, como o RenovaBio (Lei dos biocombustíveis no Brasil) e o Plano ABC+, que começou em setembro deste ano, com metas importantes até 2030 para combater às mudanças climáticas e promover o controle das emissões de gases de efeito estufa (GEE) na agropecuária brasileira, estimulando o aumento da eficiência e resiliência dos sistemas produtivos.

Uma das características do agro também é o efeito poupa-terra, que reduz a necessidade da terra para produzir mais, além da capacidade de produzir até quatro safras por ano, de forma produtiva, eficiente e com o uso de sistemas sustentáveis criados a partir de ciência voltada para o mundo tropical. As indústrias, startups e empresas têm desenvolvido novas tecnologias para agricultura de precisão, que diminuem os impactos ambientais das atividades agrícolas.

Certamente, o agro está do lado dos biomas brasileiros e defende o combate sistemático contra o desmatamento ilegal, que precisa ser punido com a força da Lei. O setor também procura a união com o poder público para a criação de políticas públicas que estimulem a preservação ambiental concomitantemente à geração de renda para as comunidades locais para a sociedade como um todo.

Para o próximo ano, a expectativa é que o agro siga trabalhando em prol da segurança alimentar global. Dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) calculam uma alta de 10% para o PIB Agropecuário, o que permitirá que o setor siga produzindo de forma sustentável para alimentar o mundo.

Autora: Gislaine Balbinot é diretora executiva da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)

O artigo “Em prol da segurança alimentar mundial” é destaque da edição 06 da Revista do SuiSite e pode ser conferido a partir da página 24.