Artigo de Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG, para coluna na Agrishow Digital.

“A agropecuária no mundo tropical requer múltiplas possibilidades, nos seus vários ambientes de produção, assim como deve se preocupar com a questão relativa à mudança no uso da terra”, avalia Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG.

Diz a metodologia de planejamento que a visão do todo, antes do detalhe, representa o olhar estratégico, fundamental às questões que levam ao desenho das táticas e ao posterior plano operacional. Tudo isso fica mais complexo quando a velocidade das mudanças no mundo segue acelerando e dificultando a visão prospectiva lançada sobre uma conjuntura volátil e câmbios estruturais em ajustes constantes.

Antes mesmo da pandemia já se sentiam os impactos desse processo, acelerado pelas mudanças tecnológicas durante esse flagelo e, agora, ainda maior com o conflito Rússia/Ucrânia.

Os objetivos globais fundamentais sobre a necessidade de mitigação e adaptação às mudanças climáticas visando consolidar uma economia de baixa emissão de carbono na agricultura, seguem fortes e gerais, sofrendo em 2022 as contradições globais trazidas pelo conflito citado.

A lógica do problema “aquecimento global” surge pela intensificação das atividades humanas desde o século XIX, com a chamada Revolução Industrial. De lá para cá, o aumento das emissões de gases do efeito estufa à atmosfera, em especial o CO2, traz preocupações reais ao planeta Terra. Planejar e agir sobre a mitigação das emissões será essencial, com o senso de urgência requerido e caracterizado na última reunião da COP 26 realizada em Glasgow.

As contradições vindas da guerra Rússia/Ucrânia estão ligadas à volta dos temores relativos à insegurança alimentar e à energética por uma série de razões decorrentes da complexidade da logística desde a pandemia, agravada pelas sanções à Rússia e o bloqueio dos Portos locais.

A visão estratégica aos países se refere à segurança alimentar, ao desenvolvimento socioeconômico e à preservação ambiental. É assim que no Brasil entende e se trabalha as estratégias de ação do seu agronegócio.

A agropecuária no mundo tropical requer múltiplas possibilidades, nos seus vários ambientes de produção, assim como deve se preocupar com a questão relativa à mudança no uso da terra. Os estoques de carbono, a vegetação existente nos sistemas antropizados estão a requerer quantificação e ações tanto no campo da recuperação de áreas degradadas como no processo de cultivo. O plantio direto, o uso de adubos verdes, ambos buscando o aumento dos teores de carbono orgânico; a melhoria da biota dos solos; a eficiência no uso da água; a digitalização e a mecanização agrícola com tecnologia embarcada, em links diretos na geoespacialização, via modelos matemáticos; a expansão do uso do modelo ILPF – integração lavoura, pecuária e floresta, com várias safras anuais; a bioenergia e seus impactos na descarbonização, são as ferramentas ao alcance do produtor brasileiro, já com grande impacto na redução das emissões dos gases de efeito estufa.

Na mesma linha segue a produção de carnes em uma pecuária que desafia o produtor na busca de readequar e otimizar sua produtividade, mitigando as emissões de gases. A carne de baixo carbono é, por exemplo, uma marca que valoriza esse esforço. A redução das emissões de gases do efeito estufa se dá por unidade de produto (animais) com menor idade de abate, maior ganho de peso no tempo e menor produção de metano; maior taxa de lotação nas áreas de produção e maior produtividade são impactos positivos diretos.

No campo da agroenergia, a integração da cana-de-açúcar com milho, soja e outras leguminosas segue a mesma lógica e se expande rapidamente. A introdução da cana, por exemplo, em áreas de pastagem degradada será fundamental para ganhos de produtividade em etanol e no uso dos resíduos com produção de bioeletricidade, biogás e biometano, em substituição de combustíveis fósseis. Há, portanto, o papel da ciência e o das políticas públicas, como a lei dos combustíveis renováveis – RenovaBio, o Programa ABC, o Combustível do Futuro, entre outros.

Recuperar pastagens, em solos degradados, aumentando o estoque de carbono no solo; integrar lavoura, pecuária e floresta, com efeitos sinérgicos ao agrossistema; plantio direto na palha, com a conservação do solo e da água; a fixação biológica do nitrogênio (fábrica biológica segundo a Embrapa); florestas plantadas capturando CO2; uso de resíduos agroindustriais e dejetos animais; etanol, biodiesel e biogás/biometano em agroenergia integrada, são exemplos que o Brasil dá ao mundo.

O momento global vivido tem trazido contradições importantes: países ricos que cobram a redução do desmatamento no Brasil estão estimulando os seus agricultores a plantar em áreas de preservação. Da mesma forma, está crescendo o uso do carvão mineral para a produção de energia. Espera-se que seja uma questão conjuntural.

Fonte: Agrishow Digital