A COP 26 foi muito positiva para o país, mas sabe-se que há uma grande lição de casa a ser feita, por isso precisamos formar um mutirão para superarmos os obstáculos
Somos sobreviventes de uma pandemia e enfrentamos seus efeitos. Todos, sem exceção, cheios de dúvidas. Mas esperançosos de que a ciência vencerá logo essa batalha. Em 2021, ocorreram três grandes reuniões globais sobre economia, pandemia e redução de emissões de gases, todas com muitas indefinições.
O Brasil vai bem nas vacinações. Pouco se fala sobre o fato, mas muito se divulga sobre o crescimento do desmatamento na Amazônia. Isso acende as luzes dos países mais críticos, principalmente da Europa. Esse é um ponto de grande preocupação a todos nós.
Em 2021, o agro, que deve representar entre 26% e 28% do PIB nacional, vem superando metas: alta produtividade média e muito competitivo. Enquanto a FAO confirma a relevância do crescimento da oferta brasileira, segue o dedo irado dos interesses europeus apontado contra essa indesejável competição. Para isso, inclusive, buscam responsabilizar o agronegócio pelos desmatamentos da Amazônia.
Para defender o bioma, a maior parte dos movimentos deveria estar no combate ao ilegal, na efetivação da tenência das terras a quem lá produz há anos, na atuação do Estado em suas próprias terras, na efetivação do Código Florestal, no suporte à agricultura familiar e na defesa do pagamento aos serviços ambientais.
Além da pandemia e da “crise” amazônica, o mundo no século XXI trouxe a inovação incrível da ruptura digital, sem acelerar, na prática, a descarbonização. A pandemia elevou drasticamente os preços da energia. Os homens do petróleo cercaram o discurso da bioeconomia, buscando reduzir o impacto dos que lutam pelo carbono verde.
A ciência, base do desenvolvimento da agricultura tropical, está assentada em gente preparada nas instituições de ensino e P&D; meritocracia; recursos alocados em interação com o setor produtivo e treinamento dos seus recursos humanos. O Brasil, nesse campo, é francamente inovador e com ótima reputação. Mas precisa melhorar a questão estrutural de recursos e de integração público-privada. É preciso um “mutirão” para saltarmos esses obstáculos!
As questões de segurança alimentar e energética, além da sustentabilidade, foram temas candentes na COP 26. Isso era esperado! Como obter aval dos países para “parar” de usar carvão mineral, petróleo e gás natural? Como ter métricas? Como o Brasil, com seu potencial energético, terá superávit de carbono verde se não estancar o desmatamento?
Para o Brasil, a COP 26 foi muito positiva. E sabe-se que terá uma grande lição de casa a ser feita, principalmente em relação às emissões derivadas do desmatamento. A atuação positiva brasileira deu o tom da sua relevância: seja na integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), seja nos impactos favoráveis dos biocombustíveis, do etanol, do biodiesel, entre outros. Nesse cenário novo, o Brasil significa potência agroambiental! Mas será fácil fazer isso?
Qualquer resposta irá soar presunçosa ou arrogante, na medida em que há os limites de uma longa herança de inação. Sabe-se que esse diagnóstico não mais contribui e que certamente as reformas administrativa e tributária serão essenciais.
O setor privado é diretamente atingido nisso tudo e tem a obrigação de ser parte dessa solução. Construir é missão conjunta público-privada, que requer participação, parceria.
O Brasil requer um mutirão para ajudá-lo a avançar!
***Artigo publicado originalmente na edição 433 de Globo Rural (dezembro 2021/janeiro 2022)
Artigo de Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG, para a coluna Vozes do Agro da Globo Rural.
Imagem: Vozes do Agro – Estúdio de Criação da Globo Rural
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