Neste momento, em que o mundo é impactado por algo excepcional e de dimensões ainda difíceis de medir a curto prazo, sairá fortalecido o país dotado de equilíbrio e resiliência para superar. Nunca antes na história, o futuro da humanidade dependeu tanto da capacidade de entendimento para vivermos em um único planeta. A sobrevivência está diretamente ligada à preservação e à valorização dos recursos naturais. E o Brasil é privilegiado nesse quesito.

A pandemia de COVID-19 expôs as disfunções da sociedade. Estamos vivendo múltiplas crises: a própria doença; a desilusão econômica; a legitimidade democrática; de recursos comuns do Planeta; de relações internacionais e de governança global. Não sabemos como lidar com elas.

No âmbito global, o choque da COVID-19 lembrou-nos da necessidade de cooperação, assim como o desafio das mudanças climáticas. Mas “estas” demandam uma aliança de política com conhecimento, tanto domesticamente, como globalmente.

Talvez uma das coisas mais extraordinárias aconteceu nesse último mês de julho. Em meio a essa situação extrema, o setor empresarial brasileiro, por meio de instituições e empresas dos setores industrial, agrícola e de serviços, uniu-se em um manifesto para expor a sociedade e o Governo o seu compromisso público com a agenda do desenvolvimento sustentável.

Esse grupo é formado por CEOs de cerca de 50 grandes empresas e cinco entidades – entre elas a ABAG. Eles acompanham com atenção e preocupação o impacto sobre os negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais relacionadas à Amazônia. Há um enorme potencial de prejuízo para o País não apenas do ponto de vista da sua reputação, mas também para os seus negócios e investimentos externos.

Em reunião com o vice-presidente da República e responsável pelo Conselho Nacional da Amazônia Legal (CONAMAZ), Hamilton Mourão, o grupo colocou-se à disposição para contribuir com soluções que tenham foco nos seguintes eixos:

  • Combate inflexível ao desmatamento ilegal na Amazônia e nos demais biomas;
  • Inclusão social e econômica de comunidades locais para preservação das florestas;
  • Minimização do impacto ambiental sobre o uso dos recursos naturais, buscando eficiência e produtividade nas atividades econômicas daí derivadas;
  • Valorização e preservação da biodiversidade como parte das estratégias empresariais;
  • Adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono;
  • Financiamentos e investimentos na economia circular e de baixo carbono;
  • Incentivos para a recuperação econômica dos efeitos da pandemia de COVID-19.

A oportunidade é única para estarmos entre os países que sairão fortalecidos dessa situação. Temos recursos e conhecimento para dar escala às boas práticas, adotar rigorosa fiscalização de irregularidades e planejar com estratégia o futuro sustentável do Brasil. Precisamos fazer as escolhas certas e com sabedoria. Assim, iniciaremos uma coalizão em busca da recuperação da economia brasileira, inclusiva e sem controvérsias entre produzir e preservar.

Artigo de Marcello Brito, presidente da ABAG, para Revista Agroanalysis de agosto de 2020.
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