A competitividade coloca o país numa posição de vidraça e desperta ações protecionistas de outros países
Ser um país que emerge como líder mundial no agronegócio tem trazido pressão contra o Brasil, como era de se esperar. Ninguém gosta de ser substituído. O campo brasileiro é competitivo e desenvolveu tecnologia própria, o que o fez líder global. Como o carro-chefe da balança comercial nacional, o agro vai se distanciando dos outros países, mesmo com tanto protecionismo e políticas de suporte de muitas nações aos seus agricultores.
Desde de que se tornou um grande exportador de commodities, o Brasil tem lutado, com o esforço de pessoas incríveis, como a Ministra Tereza Cristina, com todo tipo de contestação, denúncias, ações com narrativas falsas ou, se com alguma verdade, fantasiosas e depreciativas.
Se há algo que merece reflexão, nesse mundo comercial e de potenciais pressões externas, é que “o medo pode ter alguma utilidade, mas a covardia não” (Ghandi). É o medo de atitudes imponderadas que faz o país se preparar aos potenciais ataques e é a covardia que o faz recolher-se pelo que pode vir.
Quando um Presidente da República se defende das críticas, que são feitas de forma depreciativa ao seu país, e é chamado de negacionista pelos seus cidadãos, há algo muito estranho nisso: O poder a ser buscado significa depreciar o seu país? A roupa “suja” se lava em inglês ou francês? A quem se pretende atingir?
O olhar de “popa” mostra a devastação das florestas dos países desenvolvidos, mas não se pode culpá-los, pois naquela época não se sabia que isso seria ruim ao planeta. O mundo se desenvolveu com os combustíveis fósseis, mas não se pode condenar isso, pois não se sabia que seria negativo ao clima global.
O olhar de “proa” mostra o mundo buscando redução de emissões, com foco em limitar o desmatamento e o uso dos combustíveis fósseis, o que prejudica os países mais pobres. A COP26 mostrou a reação dos países pobres em conjunto com os produtores combustíveis fósseis e um “pé atrás” dos ricos, propondo uma redução mais lenta no uso dos combustíveis fósseis. Afinal, os preços e a inflação atacam os mais pobres.
O olhar para as regiões brasileiras de baixa renda per capita, como a Amazônia, mostra neste enorme continente verde (geograficamente falando), um mundo injusto com agricultores sem posse de terras e uma lei ambiental que tem o objetivo de manter em pé uma floresta fundamental ao Brasil que produz. A culpa imputada ao país é de ser lento nas medidas de controle ao desmatamento ilegal, às queimadas e na formalização dos documentos que permitam atender o Código Florestal aprovado (CAR/PRA). O tema se tornou um caminho de pressão ao Brasil e ao agro. Sim, ao agro, pois se fala em língua estrangeira que é ele que desmata!
Como tem sido a reação do governo federal e do agro? O governo indica o desejo de realizar, mas lhe falta condições de fazê-lo. O setor privado faz críticas, mas falta atitude de suporte. O agro se dividiu entre defesas apaixonadas e ataques ideológicos ou interessados, sempre sob a sombra das eleições de 2022.
É preciso olhar para o país em na busca de soluções voltadas à geração de emprego e renda, à promoção do desenvolvimento econômico sustentável e competitivo, onde a questão ambiental esteja aliada com a produtividade e qualidade. Há 40 anos o Brasil anda de lado, precisamos buscar o interesse comum, desenvolver um trabalho que tenha sequência para a construção de um futuro melhor.
Quando nos fragilizamos em divisões ideológicas, nos tornamos frágeis. O ônus de liderar não admite essas mazelas, ao contrário, exige decisões nem sempre agradáveis e nunca populistas. A pandemia exigiu o endividamento do Brasil, com crescente déficit fiscal, câmbio desvalorizado e a volta dos juros em ascensão. O coronavírus também levou entes queridos e abalou setores da economia com perdas relevantes.
Por outro lado, a pandemia consagrou o agro como a alavanca do Brasil, mostrando os ganhos de produtividade com sustentabilidade, a agregação de valor e o potencial de atrair capital nessa fase de fluida liquidez global.
É preciso reconhecer o Brasil e conhecer o seu universo produtivo, sua luta e coordenar tudo isso para deixar um legado positivo às novas gerações de brasileiros. Estes, sim, se houver essa atuação, farão loas ao agro que nos uniu.
Artigo de Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG, para a coluna Vozes do Agro da Globo Rural.
Imagem: Vozes do Agro – Estúdio de Criação da Globo Rural
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