Embargos prejudicam livre comércio e estão entre as maiores preocupações do agro, afirma diretora-executiva da entidade

ARTHUR GUIMARÃES | JOTA | SÃO PAULO | 05/01/2023

A adoção de medidas “precaucionistas” e protecionistas que buscam proteger mercados internos, assim com a imposição de regras unilaterais para produtos agrícolas, podem gerar um efeito oposto ao pretendido, como o aumento da insegurança alimentar no mundo, afirma Gislaine Balbinot, diretora-executiva da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). Segundo ela, essas iniciativas estão entre principais as preocupações do agronegócio brasileiro para 2023.

Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) revelam que, em 2021, cerca de 2,3 bilhões de pessoas enfrentavam insegurança alimentar moderada ou severa, quase 30% da população global. No Brasil, esse número ultrapassa os 60 milhões (28,9%) considerando a média do período de 2019 a 2021.

O cenário destoa da projeção de que a segurança alimentar melhoria após o mundo superar a crise provocada pela pandemia de Covid-19. Combinados, a guerra na Ucrânia, a emergência climática e os choques econômicos continuam a dificultar o acesso de pessoas a refeições de qualidade.

Para Balbinot, isso pode ficar ainda pior como o erguimento de barreiras comerciais. “A volta do precaucionismo e do protecionismo, que têm sido cada vez mais presentes no mundo atual, é preocupante, pois leva ao agravamento de novos acordos comerciais, assim como à imposição de regras unilaterais,” trazendo “prejuízos para o combate à insegurança alimentar.”

O ex-diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC) Pascal Lemy chamou de precaucionismo o conjunto de políticas adotadas por países importadores para proteger seus cidadãos de riscos. Agora, não se trata somente das indústrias nacionais, mas da saúde dos consumidores internos. As medidas preventivas ganharam um relevo especial na pandemia de Covid-19.

A China foi um dos países que colocou um embargo sobre produto agrícolas brasileiros. Em setembro de 2021, o país interrompeu a compra de carne após identificar dois casos atípicos de vaca louca. A suspensão seguiu um protocolo firmado entre os dois parceiros em caso de doenças, mas a China demorou três meses para revogar o veto, mesmo após a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) informar que o risco era insignificante.

“Atualmente, vivenciamos uma nova globalização, com mudanças geopolíticas contundentes que podem interferir na competitividade do setor no mundo,” avaliou Balbinot. “[O] cenário global segue como uma preocupação do agro brasileiro, por exportar produtos para mais de 200 países. A crise econômica, as mudanças climáticas, e principalmente, o retorno da insegurança alimentar e energética e a crise geopolítica são os fatores prioritários para o setor.”

 

 

Gislaine Balbinot, diretora-executiva da Abag / Crédito: Divulgação

 

Fonte: JOTA