Ao participar do Fórum “Despertar para a Rio+20”, promovido pela Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, em São Paulo nesta quinta-feira (9), o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Erikson Camargo Chandoha relatou algumas observações que tem ouvido durante os encontros preparatórios para a Rio+20, que acontece no Rio de Janeiro, em junho. “Uma das queixas frequentes é a de que nós somos a sede da conferência e temos um modelo mundialmente reconhecido em termos de equilíbrio no tripé econômico, ambiental e social, mas não temos espaço no documento que está em análise”, comentou o representante do Ministério da Agricultura.

Chandoha enfatizou em sua apresentação no Fórum – que reuniu 200 participantes – que o País possui uma série de “cases” na área agrícola que são exemplares em termos de mitigação do efeito estufa e que causam impacto positivo em todo o mundo. “Um deles é que devemos recuperar, até 2020, cerca de 15 milhões de quilômetros quadrados de terras degradadas, uma extensão equivalente ao território da Itália ou toda a área plantada da Argentina”, relata. Outro exemplo positivo lembrado no evento é o de que se não fosse o ganho de produtividade do agronegócio brasileiro nos últimos anos, teríamos que dobrar a extensão de terra usada hoje para produção, o que representaria um enorme desmatamento.

Já o assessor extraordinário para a Rio+20 do Ministério do Meio Ambiente, Fernando Antonio Lyrio Silva vê como positiva toda a mobilização que a conferência está gerando na sociedade brasileira. “Noto que a mobilização de hoje não aconteceu, com a mesma intensidade, na Rio 92. Vale observar ainda que ela vai além das questões ambientais, envolvendo também o desenvolvimento econômico”, comenta Lyrio Silva.

Segundo ele, há atualmente uma maior interligação entre os setores, fazendo reduzir o maniqueísmo que costuma dominar o debate em torno de questões ambientais. “Hoje nós já percebemos, por exemplo, que o processo de redução do desmatamento não prejudicou o desenvolvimento econômico”, explica ele. No entender de Lyrio Silva, toda essa mobilização em torno do tema deve continuar após o término da conferência e esse tende a ser o principal legado da Rio+20.

Também o chefe do Departamento de Meio Ambiente e Temas Específicos do Ministério das Relações Exteriores, embaixador André Correa do Lago entende que a Rio+20 representa uma grande oportunidade para o Brasil mostrar que ele é hoje vanguarda no equilíbrio na produção sustentável. “O setor privado brasileiro, sobretudo o agribusiness, mostrou que há possibilidade de haver equilíbrio entre o ambiental, o social e o econômico no processo produtivo”, comentou o embaixador em sua palestra. A seu ver, uma das conclusões da conferência é o do “fortalecimento do pilar ambiental da ONU para que se tenha maior equilíbrio com o social e o econômico”. Segundo ele, o que se deve propor na Rio+20 é a criação na ONU de um Conselho para o Desenvolvimento Sustentável.

O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que estava presente e falou ao final do Fórum da Abag, conclamou o embaixador Correa do Lago a fazer gestões para que seja introduzido na conferência um tema que é o da “Segurança alimentar e energética com sustentabilidade”. Para Rodrigues, pela sua posição de destaque no equilíbrio entre os três pilares ambiental, econômico e social, o Brasil “tem a obrigação de levar à ONU essa proposta, até pelo fato de a FAO, braço da ONU que cuida de alimentação, ter hoje como diretor-geral, o brasileiro José Graziano da Silva”. O ex-ministro entende ainda que o governo brasileiro deve fazer propostas concretas na Rio+20. “Uma coisa que pode ser proposta, por exemplo, é anunciar o fim da tributação no biocombustível.

Na abertura do Fórum, foi exibido um vídeo com o depoimento do professor José Goldemberg, uma das maiores autoridades brasileiras em energia. O vídeo foi produzido especialmente para o evento e entre as considerações feitas, o professor afirmou que o empenho do governo brasileiro em geral na mobilização e no estímulo à participação de chefes de estado para a Rio+20 deixa a desejar. Ele classificou como “fraco” o rascunho do documento que será apresentado pelo Brasil na conferência. A seu ver, ele não condiz com a importância do País, sobretudo em relação ao grande avanço nosso na área de produção de biomassa.